O homem sofrerá bem menos, quando for mais realista em suas análises de sentimentos e, só então, descobrir que não se deve esperar do seu semelhante o que ele não pode oferecer. Falo desse tema hoje, atendendo à solicitação de um leitor que me pediu para abordar o porquê da traição.
Se analisarmos direitinho, não existem amigos ou inimigos; existem apenas mensageiros do bem e do mal. Teu inimigo pode ser, em nível de consciência ou de inconsciência, a pessoa que te admira e que se sente agredida pela força que existe em ti e que ele ou ela não possui. Teu inimigo pode ser um ser ambicioso que se alia a ti na pretensão de, contigo ou através de ti, conquistar mais rápido alguma coisa ou, quem sabe, te derrubar mais facilmente.
A verdade é que somos egoístas demais para a grandeza do amor despretensioso. Portanto, quanto mais autêntico fores, mais distantes de ti se encontrarão os que não te amam realmente; quanto mais íntima for a tua amizade que devotas a alguém, maior o risco de logro, embora não descartemos as exceções de regra até porque estamos falando do amigo sem caráter.
Para que negar a ambigüidade de todas as relações, essa eterna troca de interesses? Por que, se comumente somos, tantas vezes, vítimas de pessoas frias e mercenárias? Os hipócritas nos usam como bengalas, na hora de unir forças para alcançar um determinado objetivo e nos agridem, tão logo tentamos mobilizar essas mesmas forças em sentido contrário às suas expectativas e interesses.
Muitos são os filhos que amam pai e mãe porque são seus superiores e provedores; mas, no momento em que essa superioridade ameaça seus objetivos, neutralizam o poder de influência e determinação dos pais. Do mesmo modo, aos que "amam" o patrão pelo seu poder, sua inteligência, até mesmo seu pulso administrativo; mas, na verdade, o que realmente amam é aquilo que nele existe e que não podemos alcançar, nem ter ou ser. Quantos homens não amam, em suas mulheres, tão somente o poder que elas têm de lhes preservar o santo nome? No campo da política, vale a pena relembrar um pouco de Maquiavel que, em "O Príncipe", adverte: Teu amigo será o primeiro a te apunhalar pelas costas.
Finalmente, grande é o homem que não consegue trair a si mesmo pela vaidade, orgulho, ambição de ser ou de poder, considerando que o maior inimigo do ser humano é ele mesmo, visto que ninguém trai ou fere ninguém; nós é que nos deixamos trair e ofender.
Felizmente, existem as infinitas, incomparáveis e invioláveis leis da natureza que revelam, em curto espaço de tempo, toda e qualquer ambigüidade de toda e qualquer relação ou situação; leis de causa e efeito que desmascaram sorrisos largos, adultérios encobertos, desamor e todos os crimes nas suas mais variadas formas; traições do homem para consigo mesmo e para com Deus.
“Então, Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?
Jesus respondeu: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt. 18, 21-22)
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