Eu queria fugir do sofrimento, dos medos, das angustias, do nem sei por que de quase tudo. Estava sempre forjando uma alegria exacerbada para me ver aceito pela sociedade, já que nem eu mesmo me aceitava. Queria esconder minha tristeza, travestir minha covardia, me esconder de mim mesmo. O álcool era o meio mais rápido e mais aceito pela sociedade.
Cada gole me fazia um forte (fraco), um rei (sem reinado), um rico (sem bens), um Dom Juan (sem amantes). As fantasias e os fantasmas, por muito tempo, eram só meus e eu tinha o céu e o inferno que queria. Até que, depois de vários estágios, eu me transformei num monstro corajoso, atrevido, perigoso que atormentava a vida de todos que me cercavam. Queria impor respeito a qualquer preço e, quando ninguém aguentava mais minhas pancadas morais e físicas, eu fiquei só, já desacreditado, agora era um homem sem mulher e sem filhos.
Ainda aproveitei a aparente situação de vitima para justificar, por mais um bom tempo, a minha carreira de alcoólatra. Contei histórias de corno que não convenceram nem a mim mesmo. Senti-me tão fragilizado, que passei amar dobrado a minha ex-mulher. Eu queria aquela vítima, aquele saco de pancadas que tinha obrigação social de sentir e calar, aquela criatura cuja vida eu pudesse sugar a seiva, para sentir-me vivo.
A estas alturas, meu cérebro já estava corroído, alucinações com minhas companheiras, não produziam mais, e caia pelas “calçadas” qual vagabundo ia ignorando o prejuízo de ser inútil e infeliz.
Quando despertava de cada porre, não podia admitir o tamanho da frustração e da infelicidade moral e social. Corria para dose inicial, a dose que me estimulava a continuar sendo um palhaço sem graça, sem cores e sem circo.
Um dia, caí feio no picadeiro da vida e fui levado com mais álcool do que sangue para um hospital, interno numa clinica para loucos, urrava como animal com medo de me ver de perto. Impedido de satisfazer o vício, após bater-me contra as paredes até sangrar, fui sedado pelos médicos. Quando acordei estava um trapo entorpecido pela vergonha, uma coisa deprimente. Passei dias querendo a morte e culpando Deus e o mundo.
Até que cansei de lutar contra a realidade, e com muita dificuldade comecei a enxergar: - estou sofrendo de uma só vez, pelas muitas vezes que eu não quis sofrer; enfrentando, de uma só vez, todos os problemas que me recusei a enfrentar, e assumindo, por força da sociedade, todas as culpas que coloquei sobre os ombros dos familiares que, um dia me amaram.
Só uma força geradora de paz interior, como o amor de Deus através da compreensão do próximo, pode substituir a dose inicial que tira do meu controle o raciocínio. Raciocínio, única coisa que me diferencia de qualquer animal bruto, irracional. Um gesto de amor, uma palavra amiga AA. Se existir na vida de um de vocês alguém que passou ou passa por isso, tenham muito zelo, porque tudo depende de não tomar a primeira gota d’alcool...
Estou cambaleando na vida, errando o caminho da esperança e caindo nas ruas do abandono. Eu sou ninguém ou alguém que faz questão da honra do anonimato para não envergonhar o mundo. Ao mesmo tempo sou um filho de Deus, que se trabalhado na fé em Deus e na credulidade em mim mesmo, posso ser um milagre...
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.” (1Coríntios 6:12)
Irmã Adelma, mais um belo texto, com certeza muitas vidas estão sendo ceifadas pelos vícios dos mais variados.
ResponderExcluirQue Deus continue lhe iluminando com textos como esse, para abençoar muitas vidas -
Um abraço fraterno