sábado, 31 de março de 2012

Grito de um presidiário

Pelo amor de Deus, só tenho 18 anos de idade! Foram vocês, meus pais, e a sociedade, por serem fracos no bem, que me fizeram forte no mal, pecaram contra uma geração, porque são fracos no bem. Deus deu a vocês decênios para que fossem fortes - fortes no amor, na com­preensão, na solidariedade, na bondade, mas vocês me fi­zeram forte no mal, porque são fracos no bem.

Vocês não iniciaram caminho algum que tivesse senti­do, porque vocês mesmos ignoram esse caminho e não se preocuparam de procurá-lo, porque vocês são fracos. Diante das coisas proibidas o "não" de vocês era vaci­lante; a atitude assumida, incerta. Bastava eu dar um gri­to, para vocês estremecerem nas bases e cederem à minha vontade de ser humano inquieto, em busca de descobrir o mundo e de formar a minha frágil personalidade de ado­lescente. Vocês cediam a todas as minhas vontades, alegando terem os nervos fracos, mas vocês eram mesmo fracos no bem e sempre que cediam chamavam a isso de amor.

“Se eu era a esperança da paz, por que me induziram a guerra?” “Não sou apenas um ornamento de suas vidas,” sou alguém que veio ao mundo para crescer no bem e, assim, fazer a vontade do Pai que me criou. Por que não me en­sinaram a verdade enquanto era tempo? Por que não me bateram se preciso fosse, para que hoje não fosse a polícia que se achasse com esse direito de violência contra mim?

Porque são fracos, compravam de mim o sossego, o silêncio, a comodidade; pois como criança mal compre­endida e mal amada, reagia das mais diferentes formas, mas vocês tinham sempre uma forma de me calar, ora era roupa de marca, ora era o dinheiro do cinema (não importava o que ia ver) ora era di­nheiro para sorvetes, balas e lanches extras que eu utili­zava para comprar as primeiras drogas. Com isso, vocês estavam prestando um serviço não a mim, mas a uma espécie de descargo da consiencia de vocês mesmos, porque vocês são fracos, fracos no amor, fracos no bem, fracos na paciência, fracos na fé. Sou forte no mal, mas minha alma tem apenas a metade da de vocês e com um pouco de ajuda poderia até ensiná-los a serem fortes. Se fiz muito barulho, foi para não ter que chorar por todas as coisas que vocês deixaram de me ensinar.

Vocês são tão fracos, que me passaram a ideia de que professora é a babá de um expediente e não uma pessoa sábia e bondosa que podia me ajudar; por isso eu tratava essas profissionais com desrespeito e nunca as levava a sério, com isso estava estragando a única chance de que dispunha para crescer como gente. Assim vocês iam me impedindo de encarar a vida. Até mesmo Deus, vocês me negaram, na guerra pela competição, nunca me apontaram um só homem que fosse bom por conta do Deus que pos­suía, que fosse forte pelo fato de crê em Deus.

Agora parece ser tarde demais, tenho o estigma e a sociedade cobrará de mim tudo que vocês me negaram, por serem fra­cos no bem e hoje eu sou prisioneiro, muito mais por falta de sábios ensinamentos, do que por traficar drogas. Sou uma droga para o mundo mas restame uma esperança, quem me estenderá a mão? Que luz encontrarei no fundo deste poço? Se os céus me enviasse um ser iluminado provaria que até aqui encontrarei Deus, e eu com certeza, sairei do abismo e os socorrerei com a minha fé, porque embora vocês sejam fracos no bem, eu já terei aprendido como ser forte para provar que essa vida de vocês que é uma droga e poderá se tornar uma vida exemplar para minha vida e de muitas outras pessoas. Que Deus permita!

O casamento antes de ser um projeto social é um projeto de Deus, e os filhos são o fruto deste projeto.

2 comentários:

  1. Querida amiga, parabéns pelo belo, intrigante e questionante texto, Deus a abençoe!

    Ramiro Pinto
    Ambientalista

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    1. É uma honra está sendo acompanhada por você amigo. Obrigada pelo carinho e abraços fraternos...

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