quarta-feira, 28 de maio de 2014

Meu silêncio




Geralmente é assim, começo sentindo: insônia, insatisfação, falta de ânimo e inquietação. Aí cedo a mim mesma, fico tranquila e serena. Procuro o comedimento do silêncio.

Busco o silêncio, não o silêncio da mudez, que com discrição e inteligência, só fala com os gestos da Libras. Quero o silêncio de quem muito sabe e, por muito saber, prefere silenciar.

Quero o silêncio dos que já sentiram que o silêncio fala mais alto do que mil palavras e escreve, no coração do outro, o inefável. Quero o silêncio da ponte, entre a minha alegria e minha dor, da solidão preferida, para conversar com minha melhor amiga, eu mesma.

Meu espírito pede calmaria, faz festa de moderação, se recolhe para receber a presença de Deus. É quando me banho de unção e só escuto o som da prece e do louvor, em sentimento. É um estado de êxtase que muitos chamam de alienação, mas que eu considero bênção.

Fico leve, revigorada, cheia de fé e de poder. Quem disse que eu não posso? “Posso tudo naquele que me fortalece” e continuo serena, até que começo aos poucos a escutar, de longe, o som da minha respiração. Nesses instantes, tenho vivido a mais sábia pausa do homem: conhecer os seus limites e buscar a Deus. Aí permaneço em calmaria e, aos poucos, vou voltando às coisas do mundo onde vivo e do qual não posso ser totalmente desligada.

Nem por isso “fico azul ou levito” como diz Chico Buarque, mas troco palavras por ação. Ação documentada e registrada na paz experimentada com o Espírito Santo. E começo a me sentir feliz, agradecer por tudo que sou e tudo o que tenho, e até pelo o que não tenho. Agradecer a Deus, o direito aparentemente paradoxal de poder usar a palavra para conversar com vocês, meus leitores. Aí eu mergulho com precisão no verso de Mario Quintana:

“Difícil é interpretar o silêncio (...)
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que saberá sonhar?
Alma de outrem é outro universo
com que não há comunicação possível,
com que não há verdadeiro entendimento.”

“Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á”. (Mateus 6:6)

2 comentários: