segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Etnocentrismo


               É sem dúvida, curioso e paradoxal o fato de que o homem só avança com a descoberta do novo, do diferente e ao mesmo tempo resiste tanto a mudanças, ao desconhecido. Não me refiro à globalização, pois a entendo apenas como um fenômeno de mercado, quem sabe o germe da autodestruição do próprio capitalismo? Refiro-me sim ao etnocentrismo de grupos de uma mesma sociedade, com valores completamente diferentes. Padrões ultrapassados que querem nos impor como se fosse o normal, o modelo certo para o existir.
Ninguém, absolutamente ninguém, é dono da verdade, pois, além de tudo ser relativo; são os opostos que apontam o equilíbrio no todo. Mas, venhamos e convenhamos, não há nada mais antipático do que uma pregação religiosa fanática e forçada, do que um vendedor pegajoso que se imagina o ser mais persuasivo da face da terra ou de ter que ouvir o discurso de um “intelectual” completamente alienado da realidade político-social do seu povo. E porque não dizer? Todas as manipulações ideológicas, que transformaram seres humanos em fantoches de um sistema. Pessoas que infelizmente morrem certas de que estavam certos e que o resto do mundo vivia errado, para lá "do outro lado da vida" descobrirem que não passaram de sinceros equivocados.
"Dividir para conquistar", esta frase histórica de tempos imemoráveis, serve até hoje para explicar como um sistema nos divide das mais diferentes formas para alcançar seus objetivos e como os alcança de modo automático auto-reprodutivo, através de seus mecanismos ideológicos. Isto analisado do ponto de vista científico. Porém, até mesmo em nível de religiões cristãs, todas exortam-nos sobre os perigos da grande ilusão da vida material, que pode distanciar o homem de Deus e do seu semelhante.
Assim, se faz necessário uma constante vigilância de nós mesmos e do mundo que nos cerca, para não interiorizarmos as cobranças coletivas do fútil, do inútil, do ridículo, do alienado.
Precisamos aprender, ou reaprender a não representar, para não merecermos a dor e a vergonha de mentirmos para nós mesmos, aparentando o que não somos e o que não sentimos, apenas para sermos chamados de normais dentro de uma sociedade completamente anormal e doente.          
Exercitar a sensibilidade é antes de tudo, se permitir ser, sem se deixar manipular qual marionete de ocasião, com comportamentos automáticos, fingindo achar graça na própria desgraça.
Vivemos em uma sociedade castradora de sentimentos reais, as atitudes aparentes são interpretadas como caráter forte, as atitudes maquinadas são elogiadas como práticas e objetivas, não interessam o rombo que deixe na alma de ­cada criatura que a isso se submete para se fazer aceitar, para sobreviver.
Reflitamos sobre o sagrado dom da vida. Ele não nos pede pieguices, nem aparência de felicidade eterna, pois até as crianças já sabem que isso não existe. O dom da vida nos pede consciência, disciplina, trabalho e muita fé para melhorar um mundo tão cheio de sofrimento.
As pessoas que sufocam sua sensibilidade real pelo modismo de uma pseudo-sensibilidade, não são apenas frustradas e medrosas, são principalmente infelizes. Não há fé verdadeira sem sensibilidade verdadeira. Não há fé racional nos alienados que ignoram os gemidos do mundo.
Criticados pela maioria delirante, foram todos os sábios e profetas, mas foram eles que nos deixaram bálsamos para as dores morais e ensinamentos de auto-liberação.
É á distancia e com reflexões, que enxergamos os mistérios da vida; mas é de perto e com consciência, que devemos analisar a miséria do mundo. Quem quer que queira ver a vida como ela é, sofre; mas tem o privilégio sagrado de uma visão holística: Despir a alma é coisa de quem se basta, de quem não precisa fingir para ser aceito. E para isso, é preciso evolução espiritual. Quem não atinge esse estágio, certamente vai passar a vida inteira, de alguma forma, entorpecido de etnocentrismo e cego ante as realidades poéticas e frutíferas do existir. “No mundo tereis aflições, mas tende bom animo eu venci o mundo...” (João 16,33)


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