segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Jugo suave




           Há uma ânsia infinita de Deus em mim, até quando ousava ser descrente de tudo, por cansaço e desencantos; até quando silenciava minhas dores de decepção e orava apenas em forma de lágrimas.

           Era meu espírito crescendo, absorvendo graus de evolução, eliminando máculas, perdoando-se por asneiras cometidas, tolices de ontem e de hoje. Experiências que nos levam a se humanizar e ser capaz de ver um Cristo ressuscitado ou crucificado, em cada criatura.

            Sou pelas minhas experiências e valores, uma partícula do universo que nunca imaginava ser senhora de si quando aprendesse a força do perdão. Hoje tenho pena dos inimigos que decidi perdoar e não apenas ignorar, pois, na metamorfose do meu perdão, há luz que elimina as trevas, que obriga meus inimigos a receberem, por leis físicas e cósmicas, as reações de suas próprias ações.
            É infinita a minha ânsia de crescer em espírito, mas, com a altivez e superioridade de saber que só posso encontrar Deus dentro de mim, no meu Eu divino, e não nos homens e nas igrejas da “vida”.
            Sei que falta muito nesse meu crescimento, mas, pelo menos, já não tenho aquele ego doente e amedrontado, querendo porque querendo, passar uma satisfação de que eu sou perfeita e feliz o tempo todo. Falo dos meus dias de sol, com sorriso, com a mesma naturalidade com que falo dos meus dias de chuvas, com lágrimas. Afinal, já aprendi que não se atinge o equilíbrio sem se conhecer os opostos.
            Ser normal é não se esforçar para fingir normalidade, é, por mais absurdo que pareça, encontrar divindade no humor ingênuo; é também cansar de ser sério e sair da sintonia de sabedorias “profundas”, para brincar de anjos com o próprio Deus, numa ciranda de conhecimentos realmente divinos e não em volta de altares que muitas vezes, nada mais são que obstáculos no tempo do próprio templo.
            Quero vitórias simples, porém eternas. Prefiro as alegrias moderadas e as euforias freadas, aos desajustes dos inevoluídos e alienados em busca do nada para agradar a todos, menos a si mesmos.
            Não há leitura mais importante do que a da própria alma; não há poesia mais bela do que a que se inspira no próprio ser; não há sabedoria mais profunda do que a que se inspira na própria dor; não há romance mais perfeito do que os dramas contínuos da existência humana. Porém se faz necessário um estágio de evolução razoável para ver com os olhos do espírito, a cultura que transcende. Tudo isso se encontra na Bíblia.
            Recentemente, a escritora e poetisa, Adélia Prado, dizia em entrevista a Jô Soares: “Todos sabem escrever, só o orgulho que os impede”. É verdade, escrever com alma é ser capaz de despir-se de todo e qualquer preconceito. Fazer piadas e criar frases de efeito para ridicularizar o outro é fácil, difícil é rir de si mesmo. Evitar o mesmíssimo é saber expor na dosagem exata, tudo com que o leitor gosta de se identificar.
            Só é capaz de falar de si mesma, a alma que é leve o suficiente para querer ensinar e aprender com a verdade, até porque, não há razão na existência que justifique ignorar-se e, por isso mesmo, apontar o próximo como único responsável pelas suas inspirações desdenhosas e ocas.
            Assim vou caminhando, respeitando meus leitores o suficiente para não querer me plastificar de uma inteligência artificial que não soma muito, pelo menos ao crescimento humano. É que no jugo suave das minhas quedas, Deus mostrou-me, na Catedral da Vida, que eu também sou um cristo e devo orgulhar-me disso. Um Cristo que tem a obrigação de sobreviver com a oração do trabalho, baseando-se na teologia da existência, num eterno ritual de verdades que precisam ser ditas, mesmo que, para isso, tenha que se expor. Afinal, como diz em Mateus 11, 29 - 30: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve.”.


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