Manuel Irineu da Silva |
Há dias em que, somente, quando as catedrais silenciam e o mundo parece dormir, eu acendo a chama da minha fé, para me comunicar com Deus. Sob o véu dos mistérios da adoração, busco minha comunhão com a Trindade Santa. Aprendi com Jesus que lamúrias jamais chegam aos céus; por isso, inicio minhas orações agradecendo, para só então pedir. Mas, eu também questiono e até acho que Ele estimula esse diálogo com suas criaturas, ao permitir que vivenciemos fortes e diferentes experiências ao longo da nossa existência.
Nesse processo evolutivo, a minha alma tem a exata dimensão do que sente e compreende. Razão porque, às vezes, ela se expande e outras vezes, se recolhe, como ocorre com as leis cíclicas que regem o universo; afinal, somos partículas do Todo.
Por exemplo, é madrugada e faz dois anos que meu querido pai, Manuel Irineu da Silva, partiu para a morada dos anjos. Lembrei que dei início a minha carreira profissional de jornalista, escrevendo em 1974, minha primeira crônica: "Um Pai de Ouro" exatamente para homenageá-lo. Encontrei esse recorte de jornal recentemente dentro de sua Bíblia, tão amarelinha quanto à página do Salmo 91, conservando o perfume do tempo e a leveza de relíquia do amor incondicional.
Fechar esse círculo sobre a finitude do que para mim é infinito torna-se, no mínimo, conflitante, visto que sou obrigada a confrontar minhas próprias verdades com perguntas, tais como: vida por que te chamam vida se já nasces com o estigma da morte?! Morte, por que te chamam morte se no fim tu és o caminho para a verdadeira Vida?!
Com a criatividade: embotada pelo soluço do coração e o intelecto cansado dessas conjecturas, sigo uma lógica da sequência natural e termino me preparando um pouco para minha própria ida. Enquanto tento lembrar em que momento da minha juventude eu exigia, por imaturidade, uma maior dose de amor paternal em forma de perdão... Como quase todos os filhos e filhas da minha geração.
Meu pai, este lindo poema escrito pelo próprio Deus para minha história de vida, era poeta. Quando se foi, tinha 95 anos, o que lhe proporcionou alcançar a formatura de vários netos.
Autodidata e sábio, ele costumava dizer "Eu sou filho de Puxinanã, casei jovem com a bonita professora Maria Letícia Freire, de Juazeirinho, cidade onde iniciei minha trajetória de comerciante. Nós construímos uma família com vários homens formados. Temos neto que cursou Direito; outro, Computação; já outro fez Administração de Empresas e outro Contabilidade; e mais um que fez Psicologia” (esse último ele o elegeu com um amor singular). Do neto mais velho, formado em Letras, ele tinha um orgulho especial, por este ser poliglota e ter estudado na Europa.
Enfim, meu pai gostava de se ver na gente, somando conquistas e vitórias suas. Agora somos nós que procuramos nos ver nele. A partir da genética, cada um quer ser um pouco como ele, ter seu invejável controle emocional, sua inteligência, sua sensibilidade poética, a mesma altivez, honestidade, garra, determinação e fé apostólica. Procuramos nos identificar com a grandeza desse homem extraordinário, que nos deixou um legado moral, intelectual e espiritual em forma de amor, poesia e testemunho...
Sempre que sentir saudades de meu pai, haverá época de lembranças mais fortes que nos remeterão a lindas recordações... Eu com certeza irei ouvir o eco da voz amável de meu pai dizendo: "Deus te abençoe minha filha querida!" – Amém, meu pai. Ele começou a me abençoar, quando me deu Um Pai de Ouro: você, meu poeta preferido.
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