Diante do holocausto da fome na “Etiópia” do Nordeste brasileiro, todos nós adotamos a política do avestruz: esconder a cabeça sem nenhum remorso. Antes, os quadros tristes das vítimas da seca, apresentados na telinha, eram estarrecedores, mas nos acostumamos a eles e logo passaram a ser apenas chocantes. Hoje, diante dos quadros tristes de enchentes devastadoras, sentimos um misto de lamento e constrangimento, depois de mais um tempo, estes fatos passarão a ser questão cultural, uma espécie de artes plásticas vivas, que nos envergonham, mas que até têm seu valor "folclórico"! (as romarias que o digam).
Alguém há de dizer: Oxente, eu mesmo não! Morro de pena, não gosto nem de vê! ... Pois é justamente nessa atitude que consiste a política do avestruz. Foram poucas, são muito poucas, as pessoas que aproveitaram suas lideranças e que se levantaram em campanha para lutar contra a violência da miséria que impera em nosso solo, e que mata de fome nossos irmãos. A grande maioria prefere brindar o capitalismo e ignorar direitos humanos ou, no máximo, polvilhar a mente embotada pela omissão, com um pacote de fubá (ou outro alimento não perecível), como se fizesse um gesto grandioso de doação.
Desculpe-me o inesperado e não pedido espelho na cara, mas o suplicante nordestino precisa de espaço na mídia, não para mostrar panelas e potes vazios, rostos jovens profundamente enrugadas e outros infantis aterrorizados pela dor da fome. Os nordestinos filhos e filhas das secas ou das enchentes precisam sim, da consciência social e política dos privilegiados, precisam de seres humanos (eu disse humanos), que se neguem ao condicionamento da indiferença pela falta de fé no futuro da humanidade.
É muito cômoda essa nossa postura de apenas lamentar a inocência dos flagelados que atribuem seu sofrimento à falta de sorte da região. A fome, antes de ser um problema científico, é um problema político e não há violência maior que aquela oriunda do estado de miséria absoluta a que foram relegados milhões de irmãos.
Vamos parar de olhar a miséria do nordestino com o misto de "pena" e medo. Nós, os brasileiros esclarecidos, mais favorecidos economicamente e privilegiados de "inteligência", vamos mesmo assumir a postura de indiferença e discriminação, considerando sub-raça nossa própria gente?
São 12 crianças que morrem por minuto, de fome no mundo (Imaginem então, quantos nordestinos estão incluídos nesta triste estática). O que estamos fazendo para modificar esta situação? Absolutamente nada. Falta-nos consciência social. Se somos capazes de rasgar feridas enormes no seio da Mãe Natureza, que consciência temos para defender a própria espécie? É mais fácil entrar num modismo ecológico de ocasião para descarga de consciência... Se plastificamos irresponsavelmente nosso planeta, que drama de consciência teríamos com a falta de oxigenação cristã em nossas vidas?
Nossa omissão nos torna cúmplices da indústria da fome. Se cada instituição, entidade, clube social ou igreja de todas as religiões, adotassem famílias vítimas do holocausto da fome no Nordeste, doando-se de verdade, talvez o amor encontrasse forma de multiplicar-se na face dessa terra.
Até Deus já cansou da prepotência, da arrogância e da ambição do homem, embora continue nos dando chances de acordar para a realidade. Entretanto continuamos assistindo a catástrofes no mundo inteiro, como que "anestesiados diante da televisão".
Enquanto isso, egoisticamente, lamentamos apenas pequenas "dores de cabeça", de alguns obstáculos que encontramos no dia a dia, porque imaginamos que o mundo gira em torno de nossas ilusões, vaidades e ambições. E, cinicamente, ainda temos a coragem de ir a um templo buscar amor fraterno, divino e puro. Deus é antes de mais nada a consciência de "Dar de Si Antes de Pensar em Si". Afinal, disse Jesus: "Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo."
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