sábado, 7 de janeiro de 2012

A fé dos flagelados

Foto: Folha de São Paulo


Abençoada seja a loucura que ecoa o grito silencioso dos injustiçados da seca e de outras catástrofes naturais, em particular, no Nordeste. Estes excluídos sociais, que vivem e morrem no pesadelo da própria ignorância; seres condenados à pena de morte da indiferença política, que grassa e reina em seu país.

Profundamente entristecidos com Padre Cícero, Frei Damião e outros santos de suas súplicas, os flagelados das secas e das enchentes ja­mais imaginam que são produtos de uma "indústria", comandada por coronéis modernos, que se aproveitam exatamente de suas inge­nuidades para transformá-los em escravos fracos, com pele escura e queimada pelo sol causticante e/ou enrugada das chuvas em excesso, curtida de tanto esperar que tudo brote da terra ou caia do Céu, como se ainda existisse o paraíso.
Que pena! Bastaria uma sociedade um pouco mais politizada e organizada, fiscalizando os destinos da Pátria, que não é MÁTRIA, para que essa situação fosse revertida. A verdade é que, além disso não acontecer, os tecnocratas sempre olham e olharão o Nordeste com preconceito, com desprezo. O Sul Maravilha, por sua vez, sempre nos viu com o preconceito da raça que faz questão de ignorar, para não sentir vergonha cívica.
Nesse momento, em que milhões e milhões de brasileiros nordestinos suplicam a esmola dos "alimen­tos não perecíveis", para ir escapando dessa maré negra que são as catástrofes naturais, não dormiria de consciência tranquila, apenas doando um quilo de “massa não perecível” à massa que perece, para amenizar efeitos sociais tão chocantes e devastadores dessa tragédia climática e já histórica.
Sei que desse país sem esquerda e sem direita, que nesse momento promove e acompanha a exclusão social resultante de uma ideologia carcomida e decadente, pouco há que se esperar, até porque "assim caminha a humanidade, com passo de formiga e sem vontade"; mas, calar o grito silencioso dos injustiçados seria aplaudir um punhado de hipócritas de colarinho branco e crucificar milhares de irmãos, mesmo 2.000 anos após o Filho do Homem ter-nos trazido a Boa-Nova.
Não acredito no deus que os homens criaram, mas no Deus que criou os homens. Acredito na Lei do Retorno, da ação e reação de todas as coisas do universo. Um dia, quando o capitalismo selva­gem tiver atingido o seu clímax de loucura e desumanidade, a raça humana, enlouquecida, sentirá sede de voltar às origens e, quem sabe, entenderá o verdadeiro sentido do cristianismo.
Até lá, haverá muito calvário e é possível que um deles venha do céu, que continuará banhando com suas lágrimas avassaladoras o planeta Terra. Afinal, o Deus-natu­reza também parece que cansa... "Feliz a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que ele escolheu para sua herança." (Salmos 33.12)

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